"Our duty is to feel what is great and love what is beautiful - not to accept all the social conventions and the infamies they impose on us."

In Madame Bovary de Gustave Flaubert

domingo, 18 de novembro de 2012

The Farm

Fazia-se sentir um calor infernal naquela tarde de verão. Guilherme aproveitava a tarde para fazer algumas reparações nos anexos do Monte que adquirira recentemente no Alentejo. Deixara a sua carreira de advogado para se dedicar a um projecto de desenvolvimento agrícola.

No auge dos seus 35 anos apresentava uma forma física invejável, muito graças às horas que dedicava semanalmente ao triatlo. Transpirava abundantemente, de tal forma que a sua pele bronzeada reflectia cada gota de suor que corria pelos músculos tonificados cujo esforço realçava. O aperto dos jeans algo gastos deixava notar o desenvolvimento muscular das nádegas e pernas. A proporcionalidade era perfeita!

Ouviu à distância o som rouco de um veículo a aproximar-se. Não imaginava quem pudesse ser. Estava divorciado à mais de um ano, altura em que decidira deixar a advocacia para se dedicar a um projecto pessoal de agro-industria. Para além da família, pouca gente gente conhecia quer o seu paradeiro quer a sua nova ocupação. 

O veículo aproximava-se a uma boa velocidade pelo caminho de terra batida deixando no ar uma espessa nuvem de poeira amarelada. 

Um Range Rover Evoque com vidros escurecidos parou próximo da casa recém remodelada que tomara a Guilherme os primeiros meses depois de se mudar. O jipe permaneceu imóvel durante alguns segundos sob o olhar atento do proprietário da casa, até que a porta do condutor abriu. Viu pousar no chão uma bota negra de salto incrivelmente alto, depois a outra. De dentro da viatura saía de uma forma quase cinematográfica uma mulher de cabelo negro brilhante, com uns óculos escuros que lhe tapavam parte da face. Envergava uma saia de cabedal negro e uma blusa bastante decotada.
Dirigiu-se a Guilherme que tentava, em vão, reconhecê-la. 

- Boa tarde! Guilherme Salvador? - perguntou 

- Sim, sou eu. E com quem tenho prazer de estar a falar?- questionou enquanto secava com uma toalha o suor que lhe pingava pelo tronco.

- Amanda Soares. Trabalho na CostaLima&Assoc. Estou encarregue de um dos casos que deixou pendentes. - disse enquanto tirava os enormes óculos deixando a descoberto os olhos pretos, maquilhados com um eyeliner carregado e enquadrados por uma pestanas longuíssimas. 

- Como deve saber deixei a advocacia. De qualquer forma, se puder ajudar, terei todo o gosto. - Respondeu de forma amável. 

- É por isso que aqui estou. Extraviaram-se algumas cópias dos documentos do caso Mirage e estamos com dificuldades de acesso aos originais. Como sabemos que tem cópias de todos os seus processos, gostaria de saber se os podemos consultar até termos novas cópias em nossa posse.  - Explanou sucintamente.

- Claro. Sem problema. Vou levá-la ao escritório e dou-lhe o processo para consultar. - Disse enquanto lhe indicava a porta da casa. 

Seguiram pela casa, devia ter umas 5 ou 6 divisões mais os anexos. A cozinha e a Sala eram a mesma divisão, bastante amplas e com decoração rústica, dominada por uma lareira bem ao centro que dominava a divisão. Com Guilherme à frente, seguiram por uma pequena escada que dava acesso ao escritório, antes um pequeno sótão ou arrumo e que agora albergava a ampla colecção de livros e documentação, para além de ser o local onde era gerida a pequena empresa de Guilherme. Indicou à visitante que se sentasse na sua cadeira e colocou-lhe à frente um conjunto de dossiers sobre o processo que a levara até ali. 

- Sinta-se à vontade para usar o que for preciso aqui ou lá em baixo. Vou descer e tomar um pequeno duche que isto não são formas de receber visitas. - Disse sorrindo enquanto apontava para si mesmo em tronco nu e com alguma sujidade visível pela roupa.  

A advogada mirava discretamente o anfitrião enquanto se sentava na poltrona almofada recostando-se. Cruzou a perna direita sobre a esquerda deixando claramente à vista o tom de pele dourado das suas pernas e pousou sobre elas um dos dossiers - "Por mim não há problema que esteja assim. Está tanto calor!!" - atirou, enquanto abria mais um botão da sua já decotada blusa. 

O homem desceu em direcção ao duche. Entrou no quarto de banho e vagarosamente, tirou os jeans  e ficou apenas de boxers pretos encimados por um fino traço vermelho. Apoio as mãos no lavatório rectangular e olhou-se ao espelho, pensando durante alguns segundos na inusitada visitante que deixara no seu escritório. Tirou os boxers e dirigiu-se ao painel digital da cabine de duche redonda feita por ele mesmo e seleccionou a temperatura da água que de imediato começou a brotar de um larguíssimo chuveiro junto ao tecto.

Fechou os olhos e ali ficou a sentir o relaxamento provocado pela  água que caía sobre o seu corpo.  


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